Les Doublures — título provisório de Le Souffleur ou le Théâtre de société, romance publicado por Jean-Jacques Pauvert (Paris) em 1960 — constitui uma imersão nos manuscritos e nos arquivos de Pierre Klossowski, autor falecido há vinte anos e cuja obra inclassificável, tanto escrita quanto plástica, atravessa todo o século XX.
Como se desdobram as personagens do romance ao sabor da loucura do narrador? Que personalidades do meio literário e da sua vida privada inspiraram o autor? Que relações estabelece a ficção com a história e a atualidade (por exemplo: a resistência e o colaboracionismo em França durante a segunda Guerra Mundial, as guerras coloniais, o putsch de Argel, a tomada de poder por de Gaulle, a revolução dos costumes…)? Como é que a personagem de Roberte, após ter sido vítima de um esposo perverso nos dois primeiros volumes da trilogia (Roberte ce Soir e La Révocation de l’Édit de Nantes), se torna a mestre do jogo e a instigadora de uma utopia neo-fourierista? Eis o que iremos descobrir neste volume constituído por textos inéditos e pouco conhecidos, esboços, cartas, fragmentos de entrevistas, escritos circunstanciais e um dossiê de imprensa.
Nos manuscritos, onde permanecem em aberto todas as possibilidades narrativas, cruzar-nos-emos com a silhueta espectral de André Gide, já reconhecível no prólogo do Souffleur, mas também com as figuras de Gilberte Lambrichs, Pierre Leyris, Gabriel Marcel, Jean Paulhan, eventualmente com Georges Bataille e Jacques Lacan, e sobretudo com Jean Carrive, « o souffleur propriamente dito », jovem poeta surrealista e, posteriormente, erudito e tradutor, escritor sem obra cuja « alma violenta » inspira estes « Nouveaux Mystères de Paris ».
« Qui me lisant, qui m’écoutant, pourra jamais me suivre dans le genre de nostalgie que je vais tenter de dépeindre? Qui de nous n’a pas connu la joie d’un attachement, n’a pas senti les forces lui revenir dans les pires détresses dès que le visage aimé en se penchant vers lui apportait la sourde promesse de ressources inespérées? Mais en est-il deux ou trois qui aient connu le souci insensé de faire partager à autrui l’émotion particulière que leur procurait le visage de la compagne élue, et ce souci, comment peut-il devenir à la longue aussi indispensable que la sensation que procure la dilapidation à pleines mains du trésor que l’on possède? » (Pierre Klossowski, projeto de prefácio)